JUNG EXPLICA

PSICOLOGIA ANALÍTICA – UM MÉTODO CURIOSO

Ilustração Livro Vermelho –  Carl Jung

  

Arquétipos, Complexos, Self, Sombra, Persona, Sincronicidade, Introversão, Extroversão, é comum nos depararmos com esses termos em alguma matéria, artigo, revista ou sessões de terapia, soando com um ar especulativo e místico. Os curiosos, descobrem o fundo psicológico que essas expressões carregam, e os aventureiros, se deparam com um universo profundo de onde emergem, deuses, mitos, símbolos, imagens *numinosas e forças inconscientes.

*Numinoso: Adjetivo para um estado de espírito que é influenciado, que se encontra inspirado pelas qualidades transcendentais do Divino, mistério e o sagrado.

Assuntos tratados pela ciência cartesiana como mero descaso psicológico, fantasias e truques baratos, resquícios de uma mente primitiva imersa em um mundo espiritual de crenças aquém à luz da consciência. Destarte para o psiquiatra suíço fundador do método denominado de psicologia analítica, todos esses fenômenos englobam parte existente e ativa da vida humana.

Carl Gustav Jung, psiquiatra criador desse método de análise terapêutica nasceu no ano de 1875 em Kensswil (Suíça), em plena época de movimentos ideológicos como o romantismo e naturalismo, em contraparte a grandes duas guerras mundiais. As influências dualistas de dois extremos da época o fizeram teorizar sobre as potências inconscientes que dominam “sutilmente” as ações humanas.

Jung foi aluno direto de Sigmund Freud, o pai da psicologia, tão grande era a estima de Freud por seu pupilo, que o suíço chegou a assumir brevemente o cargo de presidente da associação internacional de *psicanálise. Todavia devido a divergências sobre o cerne da questão que envolvia a energia psíquica, ocorre em 1913, um rompimento total da relação de ambos. Acontecimento necessário para que mais tarde Jung desse continuidade a seu próprio método de análise.

*Psicanálise: Método de análise terapêutica criado por Sigmund Freud.

Nos mais de 16 volumes compilados, declarados como sua Obra completa aqui no Brasil, Carl Gustav Jung nos leva além da consciência, ao investigar os fatos profundos e ocultos da alma humana.

                                                               Carl Gustav Jung – (1875-1961)

Seja por sua experiência de vida pessoal ou o coletivo de ideias a ele contemporâneas, os pensamentos e teorias desse autor sobre o comportamento humano revolucionaram o campo prático e empírico da psicologia, ao problematizar a questão simbólica e transcendental, como fenômeno atuante na psique e determinante no processo de desenvolvimento do ser humano.

Seu método se preocupa em investigar a psique, no sentido de alma, compreendendo os fenômenos da mesma como manifestações de fatos psíquicos, que integram através de símbolos os fenômenos duais de nossa existência.

A teoria mais “polêmica” por ele elaborada, também é a base de seu método de análise psicológica. O inconsciente coletivo, como o nome indica é um cenário da mente humana do qual não possuímos consciência, este abrange todos os conteúdos simbólicos e arquetípicos da humanidade como espécie, é um campo acrônico, não-espacial, e impessoal, que contém todas as experiências humanas, passadas biológica e psicologicamente através das gerações.

A hipótese desse campo inconsciente, tem como base além da experiência clínica, a investigação dos sonhos. Esse método compreende a análise das imagens simbólicas, que emergem do inconsciente no momento de sono, onde nossa capacidade consciente está ausente. Os sonhos são uma importante ferramenta no trabalho analítico, curiosamente esse tipo de técnica já era utilizada antes mesmo de Cristo, pelos Gregos, obviamente com focos e abordagens diferentes, mas já compreendidos como aspecto relevante para a mente humana.

Na busca da compreensão do mundo simbólico dos sonhos e sua gama de significados, parte do trabalho de um psicólogo analítico é o estudo profundo de mitos, contos e lendas. Estes são outra forma de expressão simbólica, através de narrativas que exprimem ideias e sensações coletivas. Padrões que repetimos independente de nossa vontade, e sutilmente se não conscientizados, determinam nossas ações. Os exemplos clássicos que podemos encontrar em diversos contos são: o caminhar do herói, o amor eterno, o abismo da morte e o mundo transcendente, histórias que se retomam em diferentes épocas e locais.

                                                   Ilustração Livro Vermelho –  Carl Jung

Jung em seu método considera o valor simbólico dos fenômenos psíquicos internos, projetados em contos, sonhos, no corpo e nas formas de arte, como a pintura, poesia, música. Embora ainda pouco estudado em universidades, Jung possui uma série de adeptos que continuam desenvolver sua obra, que aos poucos começa a ter maior representatividade no meio acadêmico. No campo prático de atuação, é sem dúvida o favorito daqueles que aderem a terapias holísticas e medicinais “integrativas” e “complementares”, sendo a base científica de muitas práticas, que envolvem desde óleos essenciais à terapias manuais, que lidam com a questão do corpo e artísticas que atuam com os atributos da alma.

No Brasil essa visão mais abrangente do ser humano como um fenômeno multifacetado de experiências não é algo novo. Em meados de 1954 a célebre Nise da Silveira, psiquiatra pioneira na introdução da psicologia analítica nas terras tupiniquins e fundadora da *Casa das Palmeiras, foi entusiasta das teorias Junguianas em relação aos transtornos mentais. Nise e Jung trocaram cartas e experiências, onde a mesma retrata seu trabalho com a prática da arte em doentes mentais. O suíço chega a citar que o trabalho de Nise reforça as teorias por ele levantadas sobre o inconsciente coletivo.

Nise da Silveira – (1905-1999)


*Casa das Palmeiras: Instituição idealizada pela Dra.Nise da Silveira que propõe a reabilitação mental através de atividades expressivas, em regime aberto. Nas palavras da idealizadora: “A casa das palmeiras é um pequeno território livre”.

Tão grande foi a estima de Jung por Nise e seu trabalho, que em questionamento levando sobre o futuro da psicologia analítica Jung afirma:

“O Futuro da Psicologia Analítica está no Brasil”.

Será que o Brasil como um país multicultural onde diversos povos convergem e se misturam, tem capacidade de transcender aos seus desafios políticos e sociais? Quais os desafios inconscientes de nosso povo? Qual o inconsciente coletivo brasileiro que envolve as questões de preconceito, intolerância, autoritarismo e radicalismo, tão vigente em nosso país? Podemos realmente ser esse futuro? Essas questões só Jung explica.

Ilustração Livro Vermelho –  Carl Jung
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Silveira, Nise da. Jung: Vida e Obra. Paz e Terra, 2003. 
Grinberg, Luiz Paulo. Jung: o Homem Criativo. FTD, 2003. 
Jacobi, Jolande. A Psicologia De C.G. Jung Uma introdução às Obras Completas. Ed. Vozes,2013. 
Jaffé, Aniela. Memórias, Sonhos e Reflexões. Ed Nova Fronteira, 2019.

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