Psicologia analítica

Breve Introdução à Psicologia Analítica
Parte I- Prólogo do Inconsciente

   Antes de iniciarmos com o tema, se faz necessário mergulhar em suas origens,  compreender o contexto histórico do qual surgiu e a base de suas idéias. O que nos leva ao nome mais famoso dentro da psicologia, Sigmund Freud.

 Obs: Caso seja do interesse do leitor, todas as referências utilizadas se encontram na parte 3 do artigo, não deixe de conferir!
   No século XIX nascia Sigmund Freud, médico neurologista considerado o pai da psicologia, suas ideias sobre a mente humana influenciam diversos campos da ciência até os dias atuais, e seu método intitulado psicanálise é utilizado por psicólogos de todo mundo. Das diversas teorias de Freud vou citar aqui aquelas que mais interessam ao entendimento das ideias posteriores propostas por Carl Jung, foco de interesse do Blog.

Sigmund Freud (1856-1939)


Consciente e Inconsciente
  Uma das grandes contribuições de Freud para a humanidade foi sua teoria sobre o Inconsciente, essa estrutura presente na mente humana nos permitiu após anos de foco externo um olhar para o interior da humanidade, abrindo espaço para um vasto mundo a ser explorado. Freud propõe a ideia de que, em nossa estrutura mental, há existência de algo além de nossa consciência, do domínio do nosso eu, das ações conscientes.
‘‘Estar consciente é, em primeiro lugar, um termo puramente descritivo, que repousa na percepção do caráter mais imediato e certo’’. (Freud, 1976).
  Haveria então, um campo denominado Inconsciente, a mente tem momentos transitórios de consciência, períodos de ‘’stand by’’ ocorreriam,  tornando os conteúdos mentais latentes até serem carregados de energia que os torne consciente novamente. Esse espaço onde os pensamentos ‘’repousam’’ seria então parte do Inconsciente.

 “Um estado de consciência é, caracteristicamente, muito transitório; uma ideia que é consciente agora não o é mais um momento depois, embora assim possa tornar-se novamente, em certas condições que são facilmente ocasionadas. No intervalo, a ideia foi… Não sabemos o quê.’’(Freud, 1976).
  Um conceito popular que pode elucidar essa ideia é o de *Subconsciente, nosso cérebro é carregado de milhões de informações diariamente, nos quais ele seleciona apenas aquelas que nos interessam no momento, entretanto seus conteúdos não desaparecem, mas ficam de modo subliminar em nossas mentes, no subconsciente. Essas informações podem vir a influenciar nossas escolhas sem a consciência dos fatos.
*Termo criado por Pierre Janet, utilizado para expressar todo conteúdo que não é consciente. Um bom exemplo desse conceito se encontra no filme Golpe Duplo.
  Segue um exemplo comum de ocorrer: Um homem desvia seu caminho da volta ao trabalho pelo parque, coloca seus fones de ouvido, seleciona as faixas musicais do Metallica pelo Spotify e segue seu caminho,  quando por algum motivo vem a sua mente a lembrança de sua avó, a quem não visita há tempos. A nostalgia aconchegante lhe faz até trocar de faixa musical e decide então visitá-la no final de semana. Ao chegar e ser recebido lembra-se do quanto era aconchegante a casa e o cheiro característico do perfume das damas da noite que permeiam por todos os cômodos, e lhe faz sentir acolhido. O que esse homem não percebeu (de modo consciente) é que em sua caminhada passou por um campo com diversas damas da noite e ao sentir seu odor lhe foi ativada uma memória que lhe trouxe a lembrança associada a avó.
  Embora simplista, é um exemplo de como nosso inconsciente atua em nossa vida cotidiana, tenho certeza de que ao se esforçar irá conseguir recordar de fatos semelhantes, portanto seguiremos a prosa.
                 Logo existiria um estado consciente ao qual temos percepção e um campo inconsciente rico em informações (sensoriais, visuais, intuitivas), nem sempre perceptível, entretanto, ideias latentes capazes de tornar-se conscientes.
                   “Existem ideias ou processos mentais muito poderosos, que podem produzir na vida mental todos os efeitos que as ideias comuns produzem, embora eles próprios não se tornem conscientes’’ (Freud, 1976).
                 O inconsciente está presente e se desenvolve ao longo de toda nossa vida, desde o nascimento, idéias advindas de sentimentos, sensações, experiência, memórias aos quais reprimimos ou não percebemos por algum motivo, entretanto não desaparecem de nossa mente.
               Todavia nenhum novo conceito foge aos seus paradigmas, Freud para explicar o inconsciente parte de um princípio fundamental em sua tese, a Repressão. Os conteúdos reprimidos encontram uma força que se opõe ao mesmo para que esses não ultrapassem o limiar da consciência, uma barreira por assim dizer.

                 “O estado em que as ideias existiam antes de se tornarem conscientes é chamado por nós de repressão, o reprimido é, para nós, o protótipo do inconsciente’’(Freud, 1976).
                            Logo há de perceber que os conteúdos do inconsciente podem ser descritos de dois modos:


·         Estruturas Inconscientes Latentes: que tem a capacidade de tornar-se consciente.
·         Estruturas Inconscientes Reprimidas: que não tem a capacidade de por si só de se tornar conscientes, devido às barreiras que os reprimem.

     O primeiro caso, por estarem mais próximos do nosso consciente sem repressão Freud atribui o nome de pré-consciente, no segundo caso de inconsciente.

                         “Percebemos, contudo, que temos dois tipos de inconsciente: um que é latente, mas capaz de tornar-se consciente, e outro que é reprimido e não é em si próprio e sem mais trabalho, capaz de tornar-se consciente. Esta compreensão interna (insight) da dinâmica psíquica não pode deixar de afetar a terminologia e a descrição. Ao latente, que é inconsciente apenas descritivamente, não no sentido dinâmico, chamamos de pré-consciente; restringimos o termo inconsciente ao reprimido dinamicamente inconsciente, de maneira que temos agora três termos, consciente (Cs.), pré-consciente (Pcs.) e inconsciente (Ics.), cujo sentido não é mais puramente descritivo’’(Freud, 1976).
*Não se esqueça de que, no sentido descritivo, há dois tipos de inconsciente, mas, no sentido dinâmico, apenas um.
                 A princípio a ideia de existir em nossa mente algo fora de nosso ‘’controle’’ , que ocorre independente de nossa vontade é assustador e ao mesmo tempo confuso, mas se fizermos uma breve comparação com nosso corpo, onde diversas estruturas funcionam de modo involuntário e essas garantem a integridade do organismo, podemos compreender que algo semelhante ocorre com nossa *Psique. Precisamos nesse momento mergulhar a fundo na ideia do inconsciente e compreender que, a totalidade mental é em sua minoria aquilo que identificamos como Eu, e na busca pela personalidade do Eu, que Freud propõe uma teoria a respeito da estrutura mental.

  *Psique é um termo grego que significa: alma, sopro divino, o si mesmo, palavra que adotada pela psicologia como sinônimo de toda estrutura mental.
Estruturas da Mente Humana
             

                 A partir desses conceitos Freud chega à organização da Psique, dividida em três estruturas, de acordo com sua teoria da personalidade:
                 Ego: Relacionado à razão, consciência, centro organizador das estruturas mentais, a consciência se relaciona a ele, é responsável pelas descargas de impulsos no mundo exterior. Surge através da relação do meio interior com exterior. Responsável pelo equilíbrio da psique, junto ao superego desenvolve ‘’barreiras’’ que reprimem conteúdo do inconsciente.
             “A importância funcional do ego se manifesta no fato de que, normalmente, o controle sobre as abordagens à motilidade compete a ele’’ (Freud, 1976).
   
              SuperEgo: Relacionado à moral , é a representação dos ideais do ego, é a parte da psique que atua junto ao ego como um ‘’ conselheiro’’ , nele se conservam valores morais e éticos, absorvidos pela sociedade, relações primais e meio onde vive. É também chamado de Ideal do ego.
“Se considerarmos a origem do superego, reconheceremos que ele é o resultado de dois fatores altamente importantes, um de natureza biológica e outro de natureza histórica. ’’(Freud, 1976).
             ID: Relacionado aos instintos, vontades primitivas presentes no inconsciente, o ser humano nasce com impulsos orgânicos latentes que tem como fim se realizar. A esses conteúdos Freud atribuiu o nome de Id. O ego e superego se desenvolvem a partir dele.

              “É fácil ver que o ego é aquela parte do id que foi modificada pela influência direta do mundo externo’’. (Freud, 1976).
              Uma  referência simbólica da relação dessas estruturas pode vir a esclarecer um pouco sobre o papel de cada um deles:

 “O ego em sua relação com o id, ele é como um cavaleiro que tem de manter controlada a força superior do cavalo, com a diferença de que o cavaleiro tenta fazê-lo com a sua própria força, enquanto que o ego utiliza forças tomadas de empréstimo. A analogia pode ser levada um pouco além. Com frequência um cavaleiro, se não deseja ver-se separado do cavalo, é obrigado a conduzi-lo onde este quer ir; da mesma maneira, o ego tem o hábito de transformar em ação a vontade do id, como se fosse sua própria’’(Freud, 1976).
A teoria de estrutura mental de Freud, do modo como resumida aqui, não demonstra a imensidão do Inconsciente na estrutura psíquica, onde até o próprio ego parece conter em seus traços algo de inconsciente.
“Além disso, não se deve tomar a diferença entre ego e id num sentido demasiado rígido, nem esquecer que o ego é uma parte especialmente diferenciada do id’’(Freud, 1976).
   Um assunto de tamanha complexidade não será, portanto analisado somente nesse momento, o que trago agora é uma “pitada’’ do que será abordado em artigos posteriores.A ideia principal que deve tirar seu sono essa noite é que, em nossa Psique existe algo consciente, perceptível, presente, verbal(no sentido de ação) e um inconsciente, subliminar, atemporal, imensurável, latente e imenso em comparação aquilo que organizamos como Eu( Ego).
   O conhecimento desses conceitos é de extrema importância para compreender as diferenças entre as ideias de Freud e Jung, sendo a principal delas o aprofundamento dentro do próprio conceito de inconsciente, ao qual Jung vai ainda mais além em suas teorias( Sim! Mais ALÉM). Portanto na segunda parte,  será abordada um pouco sobre a história de vida de Jung enquanto na terceira, iremos apresentar de forma resumida um pequeno Glossário da *psicologia analítica, para que o leitor compreenda as conexões que serão abordadas com os Animes. Que a Jornada continue!
    *Método de trabalho desenvolvido por Carl Jung

Para ler a segunda parte do artigo clique aqui!

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