O movimento nada secreto de mentes dedicadas a explorar os fenômenos anímicos e simbólicos da humanidade
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Erich Neumann, Carl Gustav Jung e Mircea Eliade à mesa de Eranos em agosto de 1950. |
Nossa história começa no século XX, ano de 1933, em uma casa à beira do lago Maggiore próximo a Ascona na Suíça, onde Olga Froebe-Kapteyn organiza e promove a primeira “Tagungen” do Alemão, convenção, de Eranos.
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Olga Froebe-Kapteyn (1881-1962) |
O círculo que integra um seleto grupo de pensadores da época propõe um diálogo intercultural e interdisciplinar a partir de análises comparativas, que agregam valores imaginários, simbólicos, espirituais, anímicos e subjetivos do ser humano, na tentativa de uma contraposição ao espírito racional unilateral, que perdurava nesse período com a corrente positivista e o racionalismo cartesiano. Os encontros transcorriam em diálogos abertos, em um ambiente propício para insights, livre fluxo de ideias e inspirações, aos espíritos bem-aventurados, abertos a criatividade e o fantasioso. Um espaço espontâneo onde os participantes tivessem a liberdade para se expressar e conversar sobre suas teorias. Essa dinâmica interdisciplinar antecipou uma tendência que só ocorreria na segunda metade do século XX. E foi de suma relevância para o desenvolver de uma nova tipologia de estudo do homem, que leva em consideração os aspectos arcaicos e simbólicos.
Diversos são os autores, pesquisadores e estudiosos que já fizeram parte deste distinto grupo, nomes repetidos ad nauseam, que transformaram a concepção antropológica do ser humano. Podemos citar: Gilbert Durant, Joseph Campbell, Marie Louise Von Franz, Heinrich Zimmer, Roberto Assagioli, Eric Neumann, Mircea Eliade, James Hillman, Adolf Portman, Alice Bailey, Elémire Zolla, Rudolf Otto, Carl Gustav Jung.
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Assagioli (terceiro a partir da esquerda) com Alice Bailey e Olga Fröbe-Kapteyn em Ascona na década de 1930. |
Eranos como movimento, perpassou por diversas fases de investigação, em sua primazia indaga através de uma arquetipologia simbólica a cultura anímica do homem, onde a alma tem função intermediadora entre o corpo e espírito. Primeiramente as discussões e estudos tiveram como foco o processo de mitologia comparada, para investigação dos fenômenos.
A mitologia é um tema comum para compreensão do imaginário e psique humana, compreendida como manifestação simbólica da psique. Nesse, período os participantes se dedicaram a comparar as diferentes manifestações de mitos, do oriente e ocidente.
O circulo se encerra em 1988, no qual transcorreram três etapas de estudos: Mitologia comparada; Antropologia cultural; Hermenêutica simbólica. Destarte segundo o site oficial de Eranos, após esse período se estenderam mais quatro fases, sendo a última iniciada em 2010.
As idéias e compreensões que surgiram através desse modelo de “Brainstorm retrô”- que foi o movimento de Eranos – para o campo de estudos da psicologia humana e o simbólico, influenciaram diversos estudos ulteriores, que se preocuparam em investigar cientificamente os fenômenos da alma, através do diálogo interdisciplinar, multifacetado e descentralizado em contraposição a visão técnica científica, baseada em leis causais do universo.
* palavra de origem alemã, cujo significado literal seria “Espírito da Época”, utilizado para exemplificar a ideia de um conjunto de comportamentos idéias e tendências, que atingem determinada sociedade, em determinado momento.
”Vivemos em tempos líquidos, nada é para durar.”
Bauman Z.
A consequência dos valores adotados pelo modelo atual não poderiam demonstrar dados estatísticos diferentes, segundo a OMS na última década os quadros de suicídio e depressão relacionados a doenças mentais, cresceram exponencialmente, sendo a projeção que em 2020 a depressão será a enfermidade mais incapacitante do mundo.
Onde estamos errando? O que será que nos falta? Onde devemos buscar? Como podemos buscar? Talvez essas complexas perguntas obtenham respostas em conceitos fundamentalmente naturais a nossa espécie, um resgate profundo ao mundo objetivo de conexão “mística” com os fenômenos de nossa alma.
“É no fascínio que o problema espiritual exerce sobre o homem moderno que está, em minha opinião, o ponto central do problema psíquico hoje. Por um lado trata-se de um fenômeno de decadência – se formos pessimistas. Mas por outro lado, trata-se de um germe promissor de transformação profunda – se formos otimistas. Em todo caso, trata-se de um fenômeno da maior importância que deve ser levado em conta justamente por encontrar suas raízes nas vastas camadas do povo. E é tão importante porque atinge, como prova a história, as incalculáveis forças instintivas irracionais da psique, que transformam inesperadamente e misteriosamente a vida e a cultura dos povos. No fundo, a fascinação da psique não é uma perversidade doentia, é uma atração tão poderosa que não pode ser detida, nem mesmo por algo repelente.” C.G JUNG